dicas / como eu faço?
Herança
Além de todo o aprendizado fotográfico que meu pai me deixou como herança, eu fiquei também com algumas relíquias do tempo da fotografia analógica que curto muito, como este filtro Multiple Image aí embaixo, como o nome diz, ele multiplica as imagens, é só colocar na frente da lente e mexer até a imagem ficar do jeito que eu quero. O único problema é que ele não se encaixa na minha objetiva, então eu tive que segurá-lo, não foi uma tarefa muito fácil, pois eu estava usando foco manual devido à minha lente também ser analógica…dá pra imaginar a manobra?
Taí o resultado, eu adorei…:O))…espero que gostem também!
Pra ver mais fotos da Fran, clique aqui!
Beijo e até a próxima!
Fotografia digitalógica
Gostou do nome? Acabei de inventar…:O)
E o que é esse tal de digitalógica? Huuummm, você já viu as fotos da Juliana que eu postei no blog? Então aquelas são fotografias digitalógicas, ou seja, eu as fiz usando minha câmera digital com uma objetiva analógica, daí o nome misturadinho…rs
A minha ideia era conseguir algumas fotografias totalmente desfocadas, sem nenhunzinho ponto de foco, o que é impossível quando usamos o foco automático, pois ele exige um ponto de foco pra poder disparar. Outra questão foi que eu queria uma objetiva mais aberta e clara, foi aí que eu lembrei dessa bonitinha que eu usava na minha câmera analógica, é uma 35-70mm f3.3, da Nikon, maravilha para o resultado que eu pretendia. Resolvi testar pra ver se o fotômetro lia, ele leu e então eu fui com a minha D7000, a objetiva analógica, a cara e a coragem fazer as fotos. Putzzz…foco manual, to desacostumada, váaarias fotos sem foco, ainda mais comigo que sou serelepe pra caramba pra fotografar, levanto, abaixo, corro, deito, me apoio com uma das mãos, etc etc etc, tendo que usar as duas mãos, uma pra segurar a máquina e a outra pra focar, mas no fim deu tudo certo, eu adorei a experiência e vou fazer de novo, nada que com muito treino eu não fique craque!
Bem, eu pesquisei muito pra saber o que eu queria e pra conseguir lapidar a ideia, confesso que não foi fácil, primeiro porque eu tive que sair da minha zona de conforto, pois eu queria fazer algo sensual, porém sutil, sendo que eu estou acostumada a fazer algo divertido e nada sensual, como crianças, famílias, mulheres sem malícia, mas dessa vez eu queria uma certa malícia, eu queria ousar mais e consegui, ainda tenho muito que experimentar e aprender, o meu processo criativo está em constante ebulição…e eu estou aproveitando pra por pra fora as minhas loucuras.
A Ju foi um presente, que aceitou a minha proposta e mergulhou junto na ideia, a pessoa certa, na hora certa, até disse pra ela que eu estava ansiosa e que ela teria que me ajudar também porque eu nunca tinha feito algo do gênero…haha…rolou demaaaais!
Abaixo a foto da minha máquina com a objetiva que eu citei acima:
Outro ensaio que fiz usando esta técnica foi este aqui!
A ideia é se desligar do equipamento e sentir o momento, fotografar as sensações e as experiências…:O)
Obrigada pela visita e até a próxima!!!
Uma carta
Bem, hoje o texto não é meu, é de Quintana, é uma carta que ele escreve a um outro poeta, falando sobre a sua técnica pra escrever os seus poemas.
Semana passada eu escrevi um texto falando sobre as minhas técnicas e coincidentemente encontrei este de Quintana dias depois…foi incrível a sincronicidade que eu senti, leiam:
Carta
Meu caro poeta,
Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? – perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: “eu vos trago a verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade.” E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócritos!
Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: “O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?” A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.
A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.
Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: “Eu não te largarei até que me abençoes”. Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técninca dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.
Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.
Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.
Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?
Mario Quintana
Técnica pra quem gosta de técnica
A melhor técnica? A sua! Sério, não existe melhor técnica, existe a melhor maneira que você lida com ela, ao meu ver, isto é tão pessoal quanto a maneira que você segura a sua câmera, ou melhor, quanto a maneira que você escreve o seu nome, porque tem gente que copia até maneira do outro de segurar a câmera.
Eu nunca gostei de matemática, sempre preferi português, nas minhas aulas de pintura quando era criança, eu só gostava da prática -dos papéis, dos lápis, das tintas, das telas, da paleta e dos pincéis- quando a professora quis começar a me ensinar a teoria, eu desanimei total. Tenho guardado muito forte dentro de mim, quando eu fiz um desenho e achei ele maravilhoso, mas a professora o pegou e fez correções com uma caneta mais forte por cima dele, aquilo me deixou tão triste e eu chorava tanto, porque eu achava que ela não tinha o direito de fazer aquilo em cima do meu desenho, eu não queria saber se ele estava certo ou errado, eu apenas queria mostrar pra minha família que era eu que tinha feito, sem os traços dela por cima dos meus, foi uma frustração enorme.
Quando eu comecei a fotografar -com filme ainda- eu só mexia na abertura e na velocidade da minha câmera analógica, o ISO era referente ao filme que eu usava, 100 ou 400 e elas não tinham nem 1/3 dos botões que as digitais tem, então pensa bem…precisa mesmo usar tudo pra fazer uma foto legal? Na minha humilde opinião, não precisa! Quando eu comecei a fotografar com câmera digital, eu usava JPG, portanto eu dava muito valor às configurações e tentava usar todos os recursos, achava que iria conseguir uma foto maravilhosa usando uma ou outra configuração e tinha muito medo de perder a foto, mas o tempo foi passando e eu me decepcionando cada vez mais com as ilusões desses vários botões chatinhos que só me confundiam, então eu comecei a fotografar em RAW e tudo mudou!
O RAW me dá uma margem de erro e acerto muito grande, onde eu não preciso me preocupar tanto como no JPG na hora da captura, podendo variar entre o escuro e o claro, obtendo o resultado correto na hora da edição. Digo isso, porque muitas vezes eu já perdi um momento legal de fotografar, enquanto eu tentava ajustar as configurações da máquina e depois me dar conta que na hora de editar, eu consigo fazer praticamente o que eu quiser numa fotografia em RAW, desde que ela não esteja nem completamente estourada e nem completamente escura. De fato, eu não fico tentando recuperar fotografias na hora de editar, mas também não faço todas as exposições corretas na hora do clique, mas não me culpo por isso, pelo contrário, me liberto cada vez mais pra criar na hora do ensaio, afinal a luz muda conforme o meu posicionamento e o da modelo e o horário do dia, sendo assim, eu preciso estar sempre procurando o melhor ângulo pra conseguir acertar, é uma caça e muitas vezes não dá tempo de unir uma luz perfeita à uma expressão perfeita e um enquadramento perfeito.
Quando eu recebi esta sugestão de tema pra escrever, eu nem lembrava mais quais eram as configurações que eu estava usando na minha máquina, então eu fui olhar e fotografei pra mostrar aqui -é a primeira foto abaixo- eu já experimentei todas as formas de medição de luz e sinceramente não vi diferença, portanto me adaptei a esta e com ela eu vou vivendo (risos). O que eu mudo na hora de fotografar é a abertura, a velocidade, o ponto de foco e o ISO seguindo sempre o fotômetro da câmera, só não uso no automático porque faço muito contraluz e mudo constantemente de ambiente, portanto o modo manual é necessário para eu controlar a entrada de luz.
Eu adoro editar o meu trabalho, colocar o tom que eu quero nas imagens, escurecer, clarear, contrastar e selecionar, isso tudo me deixa muito realizada com o resultado final, mas nada disso tem valor se o conteúdo da fotografia não estiver de acordo, este fator é definido na hora do clique, porque eu posso conseguir uma luz maravilhosa numa determinada imagem, e em contrapartida, a expressão da modelo não combinar com o contexto, ou seja, a fotografia é um conjunto de fatores distribuídos harmoniosamente dentro de um espaço definido por mim.
Toda essa simplicidade é consequência de muitas tentativas, as minhas fotografias vão muito além da técnica usada. Cada imagem produzida tem toda uma referência interligada, não apenas visual, mas também sensorial, ela é um reflexo de todas as minhas vivências nesse mundo, é o meu passado, o meu presente e o meu futuro se unindo ali no mesmo instante, é o meu desejo de quebrar paradigmas e me superar a cada ensaio junto com a personalidade da pessoa que eu estou fotografando.
Na realidade, eu não acredito que tenha segredos técnicos para fotografar, o que tem é a habilidade, a curiosidade, a sensibilidade e a originalidade de cada um de enxergar a luz e tirar o máximo proveito do seu próprio equipamento, é a coragem de se assumir sem tabus sobre estar certo ou errado, é amar, se dedicar e acreditar no seu trabalho. O equipamento e a técnica são somente instrumentos usados pra transmitir uma mensagem final, mensagem esta que vem dentro de cada um de nós. Não existe certo e errado, a não ser quando se fala de leis, religiões ou crenças, portanto experimente, procure a melhor maneira pra você trabalhar e se dedique à ela, pesquise sobre trabalhos que você se identifica e tente descobrir como foram realizados, seja sempre curioso e esteja sempre aberto à novas ideias, mesmo que sejam contraditórias ao que você disse há um minuto.
Abaixo a foto das configurações da minha máquina:
E aqui algumas fotos de um programa de índio em família, feitas com a lente 18-105mm: